CINECLUBE AL-HADAF APRESENTA:

GAROTA NEGRA (1966) DE OUSMANE SEMBÈNE



Conheça Ousmane Sembène, diretor senegalês considerado "pai do cinema africano"!

Considerado cineasta pioneiro da África Sul-Saariana, Ousmane Sembène nasceu em 1923, em Ziguinchor, e faleceu em 2007, em Dakar, Senegal.

Diretor, escritor e declarado pan-africanista, Sembène começou a produzir filmes em um contexto pós-colonial, marcado pela recém independência de Senegal, ocorrida em 1960. Seu despertar político veio muito antes, Sembène serviu no exército francês por 18 meses, e trabalhou como estivador em Marselha; ambas experiências foram marcadas pelo racismo e exploração de seus colegas africanos imigrantes. Ciente do contexto político de um ocidente atravessado por duas guerras e polarizado entre dois blocos econômicos, o diretor articulou-se dentro do comunismo através de suas experiências com o ativismo sindical.

Sembène escreveu 10 livros e produziu 12 filmes ao longo de sua carreira, tanto o contato com o colonialismo, quanto o nazi-fascismo, especialmente na França durante a Segunda Guerra, marcaram suas produções que se construíam anti-colonial e priorizavam mostrar um continente africano com agência, humano e produtor de arte! A transição da literatura para o cinema foi um passo importante para a carreira do diretor, que buscou atingir um público mais amplo, o que era difícil de se fazer com a literatura e sua difícil difusão pelo continente.

Ousmane Sembène utilizava o cinema como artifício questionador e contestador das diversas realidades presentes no continente africano, que além de moldadas pela violência de um projeto colonial, foram afetadas por diversas questões de cunho religioso, político e econômico. Suas produções literárias e cinematográficas são atravessadas por discussões de raça, gênero e classe, além de enfatizarem as articulações do racismo estrutural dentro de cada categoria.


Documentários sobre Ousmane Sembène e o cinema africano.

Documentário sobre Sembène, suas produções artísticas e carreira.

Sembene! (Senegal, EUA, 2015)

Direção: Samba Gadjigo, Jason Silverman


Capa do filme para a Criterion Collection


Ousmane Sèmbene e Mbissine Thérèse Diop, atriz que interpreta Diouana.


Garota Negra (1966)

"La Noire de...", ou, "Garota Negra", foi considerado o primeiro longa-metragem de Ousmane Sembène. Baseado no conto A terra Prometida, do livro Cicatrizes Tribais escrito por Sembène, o leitor-espectador é convidado a testemunhar a história de uma jovem africana, Diouana (interpretada por Mbissine Thérèse Diop), em sua busca por emprego em Dakar, capital de Senegal. A busca, em si, não é apenas pela liberdade ou trabalho, dentro do filme representa também um sonho, que é rapidamente negado quando Diouana chega na Riviera Francesa. Como mulher racializada, sua experiência em uma sociedade branca e racista é marcada pela desumanização e fetichização.

Com uma narrativa não linear, é esperado do espectador contemplar junto dos flashbacks de Diouana como era sua vida em Senegal, e como é agora, na França. A narrativa de Sembène humaniza, apresenta a história da personagem principal, sua família, cultura e suas aspirações por uma vida melhor, enquanto o casal é apenas "madame" e "monsieur", e responsáveis pelo processo de alienação que levou a sua morte.

Há certos momentos no longa que guiam o espectador a pensar na situação política de Senegal, bem como o cenário de luta contra-colonial ocorrendo no continente africano. Essas pequenas cenas servem para pontuar que a violência e exploração sofrida por Diouana é estrutural e institucional, e não decorrente de uma má relação com o casal branco.

As promessas de um projeto colonial são desconstruídas por Sembène, que buscou pontuar a realidade enfrentada por países violentados pelo colonialismo. Sembène mostra o projeto pelo o que ele verdadeiramente é: assassino e mentiroso, que se vende como a solução de problemas causados por ele mesmo.

Ao chegar na casa de seus patrões, Diouana é explorada, não recebe pagamento e é impedida de deixar o apartamento. Ela foi prometida uma vida melhor, e um serviço de babá seria esse pontapé inicial para uma nova vida na França. Ao chegar em Antibes, Diouana foi transformada em empregada doméstica, e apenas uma das três crianças aparece ao final do filme, quando ela, já esgotada, decide se revoltar contra essa exploração. A personagem se descreve como "escravizada", e a partir de um monólogo interno expressa a sensação de ser prisioneira naquele apartamento. Suas falas internas relatam seu desdém pela família francesa, como são porcos e falam demais.

Assim como a oralidade é uma tradição presente em diversas culturas africanas, o uso da fala e do silêncio é intencional no filme. O silêncio de Diouana e sua recusa ao falar podem ser compreendidos como um protesto. Diouana fala em poucos momentos, muito do longa consiste em uma dublagem por cima. Ouvimos, então, os pensamentos de Diouana, que narra sua própria situação, vulnerabilidade e decepção, assim como seus sentimentos perante a desumanização praticada pelo casal francês. O que aspirava da França vira pesadelo, e confinada naquele pequeno apartamento observamos a personagem principal sufocar até tomar uma decisão que marca o final do filme: negar tudo! Non plus 'Oui Madame'!


Assista Garota Negra (1966) 


Outros filmes de Ousmane Sembène

Mandabi (1968)

Xala (1975)

Emitai (1971)

Crie seu site grátis! Este site foi criado com Webnode. Crie um grátis para você também! Comece agora